Hoje eu estava na padaria do Angeloni. Um lugar onde pessoas sem talento culinário se reúnem no final do dia para levar seu jantar para casa. Estava segurando minha cestinha azul com as duas mãos na frente dos joelhos, balançando para frente e para trás, tentando imaginar que sabor de pastel poderia saciar minha fome de homem solteiro e, que harmonizasse melhor, com as duas latinhas de Skol que já havia pegado.
Uma senhora apareceu do nada ao meu lado, jogou um pratinho com um pastel em cima do balcão:
- Moça! Moça! Meu pastel está mordido!
A atendente pegou o pratinho, olhou para o pastel e respondeu:
- Está sim, a senhora mordeu.
- Eu mordi, mas depois eu vi que já tinha outra mordida.
- Só tem uma mordida aqui, onde a senhora viu a outra?
- Aqui, na ponta! Quero meu dinheiro de volta.
E mostrou uma pequena meia-lua, um sorriso, em uma das pontas do pastel.
A atendente respondeu:
- Minha senhora, isso aqui não é uma mordida, é um corte que o pessoal da cozinha faz para diferenciar o sabor dos pastéis. Esse aqui é de carne, por isso tem esse corte. O de queijo, veja, é diferente, o de palmito também.
Ela dizia isso apontando para os pastéis em exposição na estufa. A tal senhora olhava levantando levemente a cabeça, para que seus óculos na ponta do nariz ajudassem no foco. Então respondeu:
- Ah... Tá bom...
Pegou o pratinho e voltou para a mesa, como se nada tivesse acontecido. Eu observava tudo de canto de olho, ainda balançando para frente e para trás feito um autista, com as latinhas de cerveja batendo nos cantos da cestinha. A atendente finalmente voltou-se para mim:
- E o senhor? O que deseja?
- Uma empadinha, por favor.